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Para onde vamos após o desencarne?

No capítulo III do Evangelho Segundo o Espiritismo, encontramos as palavras de Jesus “há muitas moradas na casa de meu pai”. Essas moradas não são somente as físicas, compostas pelos incontáveis planetas e galáxias existentes em todo o universo, elas são, também, os vários locais existentes no plano espiritual.

Assim, as possibilidades de destinação após a morte são inúmeras, como veremos neste estudo.

O que ocorre após o desencarne?

Primeiramente, iniciemos falando sobre a perturbação espiritual que quase todos passam ao desencarnar. Isso ocorre porque poucos têm a consciência imediata de que fizeram a passagem.

A duração dessa perturbação pode variar de alguns dias para até alguns anos, e é menos longa para aqueles que quando em vida já aceitavam a realidade da continuação da vida após a morte.

Alguns, inclusive, nem passam por essa fase. Aquele que já está purificado e que se livrou do apego à matéria durante a sua vida carnal logo se reconhece na situação de desencarnado.

Outros, porém, têm ainda mais dificuldades nessa fase por conta de choro e de lamentações de entes queridos que aqui ficaram e que não estão aceitando a sua morte. Isso dificulta a sua adaptação à nova vida. Essa situação melhora quando os que aqui ficaram se reequilibram e passam a fazer preces por ele.

Há os que têm o merecimento de receber um resgate, que pode ser realizado por irmãos incumbidos dessa função e, também, por entes queridos que desejam auxiliar na passagem e estar ao lado para quando despertarem da perturbação.

Ao despertar, o que muitas vezes se dá em hospitais no plano espiritual, o espírito recebe cuidados médicos e pensa que ainda está vivo. Sente-se aturdido, como se despertasse de um sono profundo. A lucidez das ideias e a realidade de sua situação vão lentamente se aclarando à medida que ele recebe cuidados.

Na morte violenta ou súbita, pode acontecer de o espírito se ver atordoado, e não acreditar que morreu. Dessa forma, procura locais e pessoas que lhe eram familiares.  Pode ficar no local onde morava, tenta falar com as pessoas, e como elas não o vêem, se surpreende e fica mais confuso. Ele acredita estar vivo, afinal vê o próprio corpo, mas não percebe que este é etéreo pois o parece sólido e compacto. Nesta difícil condição, aquele que tem mais fé é socorrido mais rapidamente.

Mas há o momento para todos, quando estiverem preparados e dispostos a receber ajuda ela certamente virá, nosso pai maior é justo e nunca desampara seus filhos.

Locais para onde podemos seguir após a morte

André Luiz no livro Nosso Lar nos traz o conhecimento sobre a existência das sete esferas, ou sete locais possíveis para onde poderão seguir os desencarnados. São elas:

  • Abismo

A mais inferior de todas. Segundo André Luiz, é uma região espiritual de enormes sofrimentos. Vão para lá os espíritos dos avarentos, os homicidas, os suicidas e os viciados. Neste lugar há vales profundos que abrigam o Vale dos Suicidas.

  • Trevas

A segunda espera mais inferior. Local pavoroso, continuamente escuro, vivem neste lugar os espíritos que quando na matéria foram imorais, envolvidos com a luxúria, a corrupção, etc.

  • Crosta terrestre

Local habitado pelos encarnados e, também, espíritos muito agarrados à matéria que ficam presos insistindo em não partir para o plano espiritual, situação a qual chamamos de estar no “terra a terra”.

  • Umbral

Região de vibração inferior, e muito sofrimento também, serve de transição para os planos superiores. Lá estão os espíritos que viveram agarrados à matéria também, e que viveram para si mesmos, abusando dos prazeres materiais, como egoísmo, preguiça, inveja, ciúme.

  • Colônias

Colônias* ou zonas de transição representam a quinta esfera. Os espíritos que conseguem seguir para lá vão se readaptando a vida espiritual, onde estudam e progridem. Como em nosso planeta ainda temos muitas imperfeições morais, entidades arrependidas ou conscientes de erros e com desejo de progredir é que seguem a esses locais. Além daqueles que seguiram uma vida voltada mais para o bem.

  • Esferas superiores

Regiões de felicidade, são habitadas por espíritos muito evoluídos, pode-se dizer que são espíritos superiores.

  • Esferas resplandecentes

Regiões espirituais de indescritível paz e encantamento. Habitadas por espíritos que já alcançaram a plenitude de sua evolução, não sendo mais necessária a reencarnação.  Morada de nosso mestre Jesus.

Nossa morada quando deixamos o corpo físico depende de nossas ações e de nossa forma de pensar quando encarnados, nossa faixa vibratória. Afinal, continuamos sendo o que sempre fomos, com os mesmos pensamentos e sentimentos de quando encarnados. Como as atitudes e o pensamento são os mesmos, vamos nos juntar a outros que se assemelham a nós.

Deus na sua infinita bondade a todos socorre, e aqueles que sofrem, não importa em que local estejam, mesmo que seja no mais inferior dos locais, terão a oportunidade de redimir-se e retomar, não importa quanto tempo leve, o caminho de sua evolução.

*Em 1944, André Luiz trouxe a lume o livro Nosso Lar descrevendo a vida na colônia cujo nome dá título ao livro. Existem, porém, muitas outras colônias, como as destinadas a conhecimentos específicos, uma delas é a das “Artes e Pintura”, onde habitam os espíritos que tem esse dom, ou a “Casa do Escritor”, destinadas a espíritos que querem aprender esse ofício. Pelas informações que temos, há sempre uma ou mais colônias sobre as cidades e estados físicos. Sobre Santos-SP, a irmã Sheila trabalha junto às crianças na colônia “Cidade Alvorada Nova”, dirigida por Caibar Shuttel. Sobre Minas Gerais está “São Sebastião”, para onde foi a irmã Patrícia, autora de Violetas na Janela, outro livro que relata a vida após a morte nas colônias. A irmã relata que sobre São Paulo há três colônias. “Nosso Lar” está sobre o Rio de Janeiro.

Ser espírita é uma vantagem ao morrer?

Muitos acreditam que sim, pois o fato de saber que a vida continua após a morte do corpo físico já credencia o espírita a despertar solto e lépido no plano espiritual. Mas a realidade é bem outra. Para que isso aconteça, sempre irá depender da forma de ser de cada um.

O fato de ser espírita não torna ninguém automaticamente livre de suas imperfeições.  Assim como não qualifica a pessoa a nenhuma vantagem, todos estamos sujeitos às mesmas leis do universo.

Torna-se muito difícil a aceitação da nova condição se o desencarnado, por exemplo, além de outros defeitos, tiver apego às pessoas, às coisas da matéria, às instituições. E mesmo tendo o conhecimento da vida no além não o ajudará. A reforma íntima e a evolução continuam necessárias na vida além do plano físico.

Estudo de caso: desencarne de um espírita

A história abaixo é baseada no texto de Hugo Lapa, psicólogo, terapeuta de regressão, espiritualista e escritor, e ilustra bem essa realidade:

Um homem de 55 anos desencarna em um acidente. Ele viu-se saindo do corpo e chega a um local escuro, frio, tétrico, com árvores retorcidas e com energias muito negativas.

Começa a caminhar e vê três entidades usando capa preta que se dirigem a ele. O homem pergunta: “que lugar é esse?”, um deles responde: “é o umbral”. O homem fica chocado por estar ali e argumenta: “como posso estar aqui se sou espírita? Realizo campanhas de doação de sopas aos pobres, ministro passes magnéticos duas vezes por semana a uma multidão de pessoas lá no centro, também ajudo financeiramente a intuições de caridade muito necessitadas, além de dar palestras no centro para iniciantes do espiritismo. Não posso estar no umbral. Deve haver alguma coisa errada”. “Não há nenhum erro”, responde o espírito, “mas no seu atual estágio evolutivo você  tem que ficar aqui mesmo, é que você  interiormente julgava pessoas de outras religiões inferiores por não serem espíritas, participava dos projetos sociais dando sopas aos pobres mas você sentia-se o ‘máximo’, o ‘maioral’ praticando a caridade, e julgava os pobres como inferiores. Ministrava o passe, mas julgava que o seu passe era o melhor de todos, ajudava instituições com dinheiro, mas fazia isso sempre pensando em receber algo em troca, e sentia-se alguém muito ‘caridoso’. Finalmente, você dava palestras mas julgava ter mais conhecimento  que os outros  e se colocava em uma posição de destaque e vaidade intelectual. Com isso, você se mostrava orgulhoso e vaidoso, que são dois dos maiores defeitos morais do ser”.

Só depois de arrepender-se de seus atos é que o homem conseguiu sair do umbral.

Essa estória mostra que o fato de ser espírita não é nenhum privilégio, e não faz o seguidor da doutrina ser superior a nada e a ninguém.

Com tudo isso, importa-nos lembrar sempre de vigiarmos os pensamentos e procurarmos sempre a reforma íntima, de modo a evoluir e, quem sabe, poder seguir para algum lugar bom.

Por Gilson Pereira

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