Matéria

Não se Pode Servir a Deus e a Mamon

A etimologia da palavra “mamon” vem do hebraico e significa dinheiro. Mas o vocábulo tem uma abrangência mais ampla, descrevendo na maioria das vezes a riqueza material, a cobiça, a ganância e a sovinice. Em outra versão, “mamon” representaria o Deus da avareza, um ser de aparência horripilante carregando um saco de moedas de ouro às costas e com enorme poder de dominar a alma dos homens.

“Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará o outro, ou se prenderá a um e desprezará o outro. Não podeis servir simultaneamente a Deus e a Mamon”. (Lucas, 16:13)

Salvação dos ricos

Um jovem aproximou-se de Jesus e perguntou a ele o que seria preciso fazer para adquirir a vida eterna. Jesus pede então a ele que siga os 10 mandamentos da Lei de Deus.

O moço diz a Jesus que estava seguindo todos esses mandamentos desde que havia chegado à mocidade e perguntou a ele o que ainda faltava, o Mestre então respondeu a que se quisesse ser perfeito, deveria vender tudo o que possuía dando aos pobres o valor e teria assim um tesouro no céu. Entristecido, o homem se afasta porque possuía grandes haveres. Jesus, ao falar com o moço, não pretendia absolutamente dizer que ele deveria despojar-se de todos os seus bens, nem mesmo mostrar que a salvação só seria obtida a esse preço, mas mostrar a ele que o apego aos bens terrenos é um obstáculo à salvação. Nem tampouco estava pregando que a fortuna seria um impedimento para  a evolução. Aquele moço poderia ser um bom cidadão, mas não tinha a prática da caridade na sua rotina de vida, pois a sua virtude não chegava à abnegação. Jesus ensinou aqui a máxima do princípio “fora da caridade não há salvação”. 

Neste momento, Jesus dirige-se aos apóstolos e profere a conhecida frase: “é mais fácil que um camelo passe pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus.”

Se tomada ao pé da letra, o ensinamento figuraria como algo absolutamente impossível de se realizar. Mas torna-se compreensível se levarmos em conta que agulha era o nome dado às portas de Jerusalém, muito pequenas e estreitas, ao ponto de obrigarem aos mercadores a despojar-se de toda a carga que traziam para poder por elas passarem. Jesus queria dizer que o homem não deve ter apego aos bens terrenos e o rico não consegue entrar no reino dos céus sem se despojar do apego a esses bens.

A palavra camelo vem do aramaico e significa “corda“. Há uma outra versão sobre a frase de Jesus e pode ser entendida como “é mais fácil uma corda passar pelo buraco de uma agulha, do que o rico entrar no reino dos céus”. De qualquer forma, o fato não invalida absolutamente a profundidade do ensinamento de Cristo.

Não se pode considerar que ser rico ou ter dinheiro é algo ruim, absolutamente. Deus não é contra a riqueza, nem contra o dinheiro, que por sua vez é bom ou é ruim dependendo das mãos de quem estiver. Essa é a grande questão.

A riqueza é uma prova. Quando a pessoa opta por vir nessa condição, ela deve entender que Deus lhe concede a oportunidade não para que se torne arrogante, vaidosa, egoísta, avarenta e hedonista, mas sim, que utilize parte do que lhe foi dado para ajudar ao semelhante em um mundo onde há miséria, fome e todos os tipos de privações. Dados recentes da ONU dão conta de que 828 milhões de pessoas passam fome no planeta, e o Brasil colabora com essa triste estatística com um contingente de 33 milhões de pessoas. Isso representa quase toda a população da Arábia Saudita.

Há inúmeros exemplos marcantes de pessoas que se tornaram grande filantropos. Um deles, o multimilionário empresário americano Charles Feeney seguindo seu pensamento de que “morrer rico é morrer em desgraça”, em 2002, aos 89 anos, doou a sua fortuna de 8 bilhões de dólares para ações de ajuda humanitária em vários países, voltadas para a saúde e para a ciência. Preservou para ele apenas certa quantia para que pudesse manter-se. Feeney chegou a declarar algumas vezes, “tive uma ideia que nunca me saiu da cabeça: a de que você deve usar a sua riqueza para ajudar as pessoas”.

Outro exemplo marcante foi o de Chico Xavier. Autor de mais de 400 obras psicografadas e traduzidas para vários idiomas, o notável médium mineiro jamais recebeu um centavo sequer pela venda dos seus livros, e sempre viveu modestamente. Até 2010, a venda desses livros já havia alcançado a marca de mais de 50 milhões de exemplares. Toda a arrecadação da comercialização dos mesmos foi doada a várias instituições de caridade.

Preservar-se da avareza

A avareza é uma das mais graves falhas morais pois atrasa, e muito, a evolução do homem. O avarento apega-se demais ao dinheiro e tem um desejo incontrolável de acumular riquezas. Por outro lado, torna-se mesquinho, egoísta. Coloca o dinheiro em primeiro lugar e priva-se de um conforto maior justamente por não querer gastá-lo.

Os avarentos são uns dos que mais sofrem quando desencarnam pois não se conformam em deixar aqui os bens que possuíam, amealhados durante toda a vida. Assim, comumente ficam ligados aos locais onde viveram agarrados a seus haveres preocupados em não perdê-los. Normalmente tem uma passagem muito difícil, mesmo quando o corpo já está muito debilitado, não querem partir e deixar a sua riqueza na Terra. Quando desencarnados, comumente ficam ligados ao local onde viveram, agarrados aos seus haveres e temerosos em perdê-los. Espíritos nessa condição experimentam um grande sofrimento. Nas casas espíritas, quando trazidos para esclarecimento, mostram-se irredutíveis, empedernidos e com muito custo aceitam a orientação de esquecer os bens que aqui deixaram.

Charles Dickens, o notável romancista inglês, é o autor da obra Um conto de Natal, que retrata a figura de Ebenezer Scrooge, um avarento e insensível milionário que passa por uma dura experiência até rever os seus conceitos e sua forma de agir.

Michelangelo, o brilhante artista, era riquíssimo pois ao longo de sua carreira ganhou muito dinheiro. Conhecido pela sua avareza, vivia e comia mal, trajando-se como um mendigo.

A americana Hetty Green foi empresária e financista, conhecida como a mulher mais rica da América no período em que viveu. Quando em sua morte em 1916, sua fortuna girava em torno de 100 milhões de dólares. Era chamada de a bruxa de Wall Street. Extremamente avarenta, não trocava o vestido e só lavava a parte de baixo do mesmo que arrastava no chão para não gastar sabão.

No livro Vinha de Luz, psicografado por Chico Xavier, o espírito Emmanuel ensina que:

“toda avareza é centralização doentia, preparando metas de sofrimento”, e acrescenta, “a vida do homem não consiste na abundância daquilo que possui, mas nos benefícios que esparge e semeia, atendendo aos desígnios do Supremo Senhor”.

Jesus nos dá mais um ensinamento com relação à avareza ao contar a parábola de um homem muito rico cujas terras haviam produzido muito e pensando como guardar tudo, resolveu que iria derrubar os celeiros e construiria outros maiores ainda. Assim, colocaria ali toda a colheita e seus bens para poder repousar e comer, porque teria as reservas por longos anos. Entretanto, naquela noite morreria e tudo o que havia acumulado de nada mais serviria.

Jesus na cada de Zaqueu

Jesus dirigiu-se a Jericó, cidade que distava 27 km de Jerusalém. Residia ali um homem muito rico e conhecido pelo nome Zaqueu. Ele queria ver Jesus, e como tinha pouca estatura subiu em uma árvore para poder vê-lo melhor, até porque a fama de Jesus já havia corrido e sempre havia um grande número de pessoas por onde ele passava ávidas por ouvir os seus ensinamentos.

Ao ver Zaqueu, Jesus pediu que ele descesse da árvore porque era preciso que ele o hospedasse em sua casa naquela noite. Jubiloso, Zaqueu desceu imediatamente e juntou-se a Jesus.

As pessoas presentes, porém, ficaram incomodadas com o fato pois não entendiam como Jesus iria hospedar-se na casa de um “homem de má vida”.

Ocorre que Zaqueu era um publicano, cuja tarefa era a de arrecadar impostos. Os publicanos exerciam a atividade não só na Roma antiga, mas também em todas as partes do Império, e este era muito vasto – à época de Jesus, quase ¾ do mundo conhecido estava nas mãos dos romanos. Os Publicanos eram mal vistos pois alguns enriqueciam ilicitamente, tinham lucros escandalosos. Os judeus abominavam ter que pagar impostos e, assim, os publicanos eram desprezados, odiados. A aversão a eles é que explica o conceito de “homem de má vida” atribuída a Zaqueu, cujo significado neste caso deve ser traduzido como gente indigna de conviver com pessoas distintas.

Já na casa de Zaqueu, o mesmo explicou a Jesus que dava metade dos bens aos pobres e como resposta Jesus disse a ele, “esta casa recebeu hoje a salvação, porque também este é filho de Abraão, visto que o filho do homem veio para procurar e salvar o que estava perdido”.

Ao abrigar-se na casa de Zaqueu, Jesus com essa sua atitude deixou enormes ensinamentos. Conhecedor da má fama dos publicanos, a sua presença mostrava que ele não estava ali para julgar Zaqueu, algo que todo o cristão deveria pôr em prática. Além disso, mostrou que todos somos filhos de Deus e ninguém deve ser desprezado pelas suas ações, mesmo más, pois todos merecem consideração e respeito.

A frase dita por Jesus traz ainda algumas revelações importantes ao mencionar Abraão, o patriarca do povo judeu, ele sabia que Zaqueu como judeu nele acreditava e Jesus respeitou a sua crença. Quando afirmou “visto que o filho do homem veio para procurar e salvar o que estava perdido”, referia-se a ele mesmo como filho do homem, cujo significado é o homem espiritual, o homem em que predomina o interesse pelas coisas do espírito, é o homem que se conscientizou de sua natureza divina. E “salvar o que estava perdido”, alude à transformação interior de Zaqueu, pois este auxiliava ao próximo, deixando de lado o egoísmo e a avareza. Jesus mostrou ainda o fato de que todo pecador ou devedor pode regenerar-se, e o despertar para o bem depende do esforço que empreendemos nesse sentido.

Em sua determinação de ir até onde estava Jesus, o publicano mostrou coragem, revelando perseverança em suportar os comentários negativos dirigidos a ele. Para Zaqueu, ter recebido Jesus em sua casa foi uma redenção pois a partir daquele momento repartiu os seus bens com os familiares e doou o restante aos necessitados. Uma mudança de tal magnitude fez com que passasse a seguir Jesus, agora com o nome de Matias. Torna-se o 13º apóstolo e cria uma instituição com o objetivo de ajudar os pobres, os doentes e os perturbados.

Assim, todos nós à exemplo de Zaqueu precisamos ter coragem e determinação para seguir os ensinamentos do Cristo em nosso cotidiano, reparando nossos erros, vencendo as falhas morais, promovendo assim a nossa reforma íntima, fundamental para que possamos conseguir a nossa evolução.

Por Gilson Tadeu Pereira

Deixe um comentário