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Advento do espírito de verdade

Jesus Cristo, também chamado Rabí (mestre) da Galileia, foi o espírito mais elevado que já encarnou na Terra. A palavra Cristo vem do grego khristós = ungido, ou seja, aquele no qual se passou óleos aromáticos, para lhe conferir poder, dignidade e proteção divina. Pela sua notável condição evolutiva não precisaria mais reencarnar.

Missionário, veio ao mundo em uma época em que a Terra estava pronta para receber seus ensinamentos superiores, como os da prática do amor ao próximo através da caridade, da tolerância, paciência, abnegação. Orientou também sobre a necessidade do desapego aos bens materiais, que são transitórios e, portanto, não devemos acumular tesouros na Terra, pois a verdadeira vida não está aqui, mas no reino dos Céus. Mostrou que a verdade dispensava a suntuosidade dos templos, dos fóruns e, ainda, a necessidade de amarmos a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a si mesmo.

Em O Livro dos Espíritos, pergunta 625, Allan Kardec indaga ao espírito “Qual o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para lhe servir de guia e modelo?”, a entidade responde, “vede Jesus”. O Codificador completa ao comentar, “Jesus é para o homem o tipo da perfeição moral a que pode aspirar a humanidade na Terra”.

O desconhecimento sobre a sua imensa evolução levou a conclusões errôneas ao seu respeito, inicialmente tentou-se dar a ele um caráter de um ser sobrenatural, fazedor de milagres (ver matéria neste site“Os Milagres de Jesus segundo o Espiritismo”) e que teria sido concebido fora das leis que regem a procriação humana. Jean-Baptiste Roustaing, um dos mais empedernidos detratores do Espiritismo, em sua obra Os Quatro Evangelhos, afirma que Jesus seria um agênere, (do grego age = seme geíne = gerar, gerado), ou seja, um ser que não nasceu, que não foi gerado e que poderia tornar-se tangível como se encarnado estivesse.

Allan Kardec em A Gênese, capítulo XIV, item 36, esclarece que “os seres que se apresentam nessas condições, não nascem e não morrem como outros homens; nós os vemos, mas não se sabe de onde vem e para onde irão. Entretanto eles não podem continuar por muito tempo nesta condição [pois se desvanecem] não podendo, portanto, ser convivas de uma casa, nem tampouco figurar entre os membros da família”.

O codificador em A Gênese no texto “Os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo”, capítulo XIV, item 66, afirma: “se Jesus tivesse sido um ser não encarnado, não teria experimentado nem a dor, nem qualquer uma das necessidades do corpo, e se acreditarmos fosse ele um ser somente fluídico, seria tirar dele todo o mérito ter uma vida de privações e sofrimentos que ele havia escolhido como exemplo de resignação”.

Paulo de Tarso, em sua Epístola aos Romanos, diz que “Deus enviou Seu Filho em semelhança de carne”. Paulo conhecia Jesus, e tinha toda a propriedade para afirmar essa verdade.

Allan Kardec e o Espírito de Verdade

Durante a codificação do Espiritismo, Kardec teve a ajuda de espíritos de elevado grau de evolução que ditaram para ele magníficos textos tendo sido compilados e editados em O Evangelho Segundo o Espiritismo. Deram a sua inestimável colaboração, apenas para citar alguns deles, os espíritos Santo Agostinho, Fénelon, Erasto, São Luís, e Lacordaire. Mas dentre esses valorosos e amoráveis mensageiros, sem dúvida o Espírito de Verdade foi o mais importante de todos.

Em 14 de março de 1856, Kardec estava em sua residência escrevendo um texto sobre os espíritos e suas manifestações quando ouviu algumas pancadas vindas da parede, foi examiná-la, mas não encontrou explicações para o ocorrido.

No dia seguinte, em sessão na casa da família Boudin, questionou o espírito Zéfiro sobre o fato e este respondeu-lhe tratar-se de um espírito familiar que queria se comunicar, e que inclusive estava ali presente. Kardec então, dirigindo-se à entidade, pergunta a esta se poderia dizer quem era e se no passado havia sido uma importante personalidade na Terra, tendo o espírito apenas respondido que o codificador deveria referir-se a ele como A Verdade e iria acompanhá-lo por meses, pedindo a Kardec toda discrição.

Mais tarde em seus apontamentos, o codificador registrou: “o que é incontestável é a superioridade da linguagem e das ideias dessa entidade“.

Em 1856, o espírito informa ao codificador sobre a missão que lhe fora confiada, informando-o sobre os escolhos que surgiriam no caminho, exigindo muita coragem, pertinácia, cautela no trato com os assuntos referentes ao mundo dos espíritos e ainda muita aplicação e altruísmo.

Tocado por grande emoção, Kardec então, agradece ao elevado espírito comentando sobre a aceitação de muito bom grado da tarefa a ele confiada. Esse especial momento pavimentou o caminho para o surgimento do Consolador Prometido, o Espiritismo, conforme um dia anunciara o mestre Jesus.

A Identidade Revelada

Mas quem seria afinal o Espírito de Verdade, ou a Verdade? Qual sublime entidade reuniria tão elevada condição moral para dirigir no plano espiritual uma falange de nobres espíritos de escol responsável por ajudar Kardec na codificação ditando tão instrutivas mensagens? Quem poderia dar a Kardec toda a ajuda, toda a cobertura necessária para a efetivação de tão importante evento?

Se analisarmos com isenção e profundidade as mensagens ditadas no Evangelho, concluiremos que o Espírito de Verdade ou A Verdade é mesmo o nosso Mestre Jesus.

Como a ditada em Paris, em 1860:

“Venho como outrora aos filhos desgarrados de Israel, trazer a verdade e dissipar as trevas. Escutai-me, o Espiritismo, como outrora a minha palavra, deve lembrar os incrédulos que acima deles reina a verdade imutável: o Deus bom, o Deus grande, que faz germinar as plantas e que levanta as ondas. Eu revelei a doutrina divina; e como um segador [ceifador], liguei em feixes o bem esparso pela humanidade, e disse: ‘Vinde a mim, todos vós que sofreis’.

“Estou demasiado tocado de compaixão pelas vossas misérias, pela vossa imensa fraqueza, para não estender a mão em socorro aos infelizes extraviados que, vendo o céu, caem nos abismos do erro. Crede, amai, meditai todas as coisas que lhe são reveladas; não mistureis o joio ao bom grão, as utopias com as verdades.

“Espíritas; amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo. Sede os vencedores da impiedade”.

Em 1861, também em Paris, a entidade ditou outra mensagem:

“Venho ensinar e consolar os pobres deserdados. Venho dizer-lhes que elevem sua resignação ao nível de suas provas; que chorem, porque a dor estava presente no Jardim das Oliveiras e que esperem, pois, os anjos consoladores virão enxugar as suas lágrimas.

“Em verdade vos digo: os que carregam seus fardos e assistem os seus irmãos são os meus bem-amados. Instruí-vos na preciosa doutrina que dissipa o erro das revoltas e vos ensina o objetivo sublime da prova humana. Que o sopro dos espíritos dissipe a vossa inveja dos ricos do mundo, que são frequentemente os mais miseráveis, porque suas provas são mais perigosas que as vossas”.

O Jardim das Oliveiras é o local onde Jesus e seus discípulos oraram na noite anterior à sua crucificação.

Em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XXIV, item 12, o texto ensina que “Jesus se acercava principalmente dos pobres e dos deserdados, porque são os que mais necessitavam de consolações; dos cegos dóceis e de boa-fé, porque pede, se lhes dê a vista, e não dos orgulhosos que julgam possuir toda a luz e nada precisar”.

No mesmo ano, agora na Revista Espírita de outubro, Erasto informa que “não podereis crer como estou orgulhoso de distribuir a todos, e a cada um, os encorajamentos que oEspírito da Verdade, nosso Mestre amado, espera de nós”.

Em 1862, em mensagem do espírito Antoine na Revista Espírita de novembro daquele ano consta: “mas contar com a benevolência sincera e afetuosa do Espírito de Verdade, o filho de Deus, o qual saberá de maneira incomparável inundar sua alma de felicidade ao compreender o espírito de justiça perfeita”.

Allan Kardec em Obras Póstumas ensina que “digamos que Jesus é o filho de Deus, como todas as criaturas, que ele chama a Deus Pai, como nós aprendemos a tratá-lo de nosso Pai. É o filho bem-amado de Deus porque, tendo alcançado a perfeição, que aproxima de Deus a criatura, possui toda a confiança e afeição de Deus”.

Erasto em 1863, na Revista Espírita de fevereiro, relata: “eis as verdadeiras leis do Espiritismo, a verdadeira conquista de um futuro próximo, estamos e ficaremos convosco, sob a égide [amparo, proteção] do Espírito da Verdade, meu senhor e o vosso nosso senhor Jesus Cristo.

André Luís, no livro Missionários da Luz, ensina: “por que audácia incompreensível imaginei a realização sublime, sem vos afeiçoardes ao Espírito da Verdade, que é o próprio senhor?”.

No natal de 1873, o Espírito de Verdade dita uma mensagem destacando-se uma frase da mesma por si só esclarecedora: “como outrora, não escolho um palácio, mas uma manjedoura”.

Jesus nasceu em uma manjedoura. Emmanuel no livro A Caminho da Luz ensina que “a manjedoura assinalou o ponto inicial da lição salvadora do Cristo, como a dizer que a humildade representa a chave de todas as virtudes”.

Jesus, o Médico de Almas

A entidade agora em Bordeaux, ainda em 1861, dita outro texto: “Eu sou o grande médico de almas, e venho trazer-vos o remédio que vos deve curar. Os fracos, os sofredores e os enfermos são os meus filhos prediletos”.

Emmanuel no livro Ante o Divino Médico ensina que somos almas enfermas de muitos séculos, trazendo muitos débitos oriundos de vidas passadas ou contraídas na atual, proclamamos que Jesus é o nosso divino médico – médico de almas –pois os seus sublimes ensinamentos servem para que encontremos a saúde da alma e do corpo.

Jesus, o Governador Espiritual do Planeta Terra

Na Revista Espírita de 1864, encontramos: “expulsar os maus espíritos, cada um procurará pela melhoria de sua conduta, adquirir este direito que o Espirito de Verdade, que dirige este Globo, conferirá, quando for merecido”.

Em O Livro dos Médiuns, capítulo IV, item 48, Allan Kardec comenta: “uma variedade do sistema otimista consiste na crença de um único Espírito se comunica com os homens, sendo esse espírito o Cristo, que é o protetor da Terra”.

No livro Eurípedes, o médium de Jesus, o espírito João Batista em mensagem afirma que “por todos temos semeado em vossos corações o amor de que tão marcantes exemplos vos tenho dado, porém, meus filhos, o vosso Governador, o vosso redentor Jesus, falando aos apóstolos e à humanidade inteira”.

Na Revista Espírita de janeiro de 1864, o espírito Hahnemann comenta que “cada um procurará pela melhoria de sua conduta, adquirir esse direito que o Espírito de Verdade, que dirige esse globo, conferirá quando for merecido”.

Em 1898 o livro Cristianismo e Espiritismo de Léon Denis, traz em suas páginas o seguinte comentário: “a passagem de Jesus sobre a Terra, seus ensinamentos e exemplos, deixaram traços indeléveis; sua influência se estenderá pelos séculos vindouros. Ainda hoje ele preside os destinos do globo, em que viveu, amou e sofreu. Governador espiritual deste planeta, veio, com o seu sacrifício, encarreirá-lo para a senda do bem”.

Jesus é um espírito que alcançou toda a evolução possível, pois devemos lembrar que a perfeição total só Deus a tem. Ele é o nosso Mestre, se quisermos ter sempre a sua companhia, e ser merecedores dela, aprendamos a pôr em prática os seus inúmeros e profundos ensinamentos contidos e explicados no O Evangelho segundo o Espiritismo, a terceira obra da Codificação, publicada em Paris em 1864.

Por Gilson Tadeu Pereira 

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