Matéria

Moisés, a Primeira Revelação

Allan Kardec, quando da codificação, trouxe à lume a existência das três revelações: Moisés, Jesus e o Espiritismo. Para melhor compreensão faz-se mister esclarecer o significado da palavra revelação.

O codificador ensina no livro A Gênese que a palavra vem do latim revelare, cuja raiz velum (véu), significa sair do véu, e no sentido figurado, descobrir, dar a conhecer uma coisa secreta ou desconhecida. Prossegue Kardec na mesma obra: “no tocante à fé religiosa, a revelação se diz mais particularmente das coisas espirituais que o homem não pode descobrir por meio da inteligência, nem com o auxílio dos sentidos. Neste caso, a revelação é sempre feita por homens predispostos, chamados profetas ou messias, ou seja, enviados ou missionários, com a tarefa de transmiti-la aos homens”.

Nascimento de Moisés

Muito tempo antes de sua vinda, Jesus enviou à Terra grandes espíritos com o objetivo de preparar a sua chegada, Moisés foi um deles. Nasceu em 1.200 antes de Cristo no Egito. Em hebraico o seu nome significa “retirado das águas”.

Sobre ele várias coisas foram escritas e alguns de seus feitos são considerados como milagrosos. Preciso é pois que se separe a lenda, e o imaginário da realidade quando estudamos tão famoso personagem.

No livro O Faraó Mernephtah, pelo espírito J.W. Rochester, o autor comenta ser Moisés fruto de um relacionamento de uma nobre egípcia de nome Termútis, irmã do Faraó Tutmósis I, com um hebreu. No antigo Egito era proibido a qualquer membro da realeza o envolvimento com alguém que não fosse da nobreza. Ao nascer, Moisés foi dado à família do pai, porém, o faraó havia decretado a morte de todos os recém-nascidos hebreus como forma de impedir que a população hebreia continuasse a crescer. Para evitar que Moisés fosse morto, Termútis pediu que a família o colocasse num cesto de vime, às margens do rio Nilo, e enquanto a corrente o levava por certa distância, ela mesma correu até lá, o recolheu e o criou.

Os Primeiros Tempos no Egito

Sob o prestígio de sua influente mãe, Moisés foi educado na corte do faraó e com os sacerdotes aprendeu a cultura daquele povo, suas crenças em vários deuses, mas também sobre a existência de um Deus único, soberanamente justo e bom. Aqueles hierofantes eram conhecedores dos fenômenos mediúnicos e contatavam os desencarnados regularmente, tendo Moisés desenvolvido a sua mediunidade junto àqueles mestres.

A Nobre Missão de Moisés

Era um homem dotado de uma forte personalidade e grande capacidade de liderança. Foi sem dúvida, um espírito missionário de grande hierarquia, pois a sua tarefa consistia em libertar o povo hebreu do jugo egípcio, codificar as leis divinas – Os Dez Mandamentos –, e revelar a todos a existência de um Deus único.

O espírito Ramatís no livro O Sublime Peregrino comenta que o povo hebreu havia sido o escolhido para receber o Rabi da Galileia, “graças à sua fé religiosa, por viver mais da fé do que pelo raciocínio, por ter uma grande capacidade de adaptação, estavam os hebreus mais do que qualquer outro povo aptos para essa tarefa”. Assim, Jesus encontrou o caminho aberto para a sua pregação evangélica entre aquele povo.

Certa feita, ao ver um guarda agredir um hebreu, enfurecido, Moisés acaba por matar o egípcio. Com medo de ser morto como punição, foge para o deserto, para a terra de Madiã, ao sul da Palestina. Lá casa-se com Zipora e tem dois filhos, Gérson e Eliezer.

Anos depois, ao chegar o momento de realizar a tarefa para a qual fora designado, Moisés recebe de um espírito elevado a informação que deveria seguir de volta ao Egito e pedir ao Faraó Merneptah, filho de Ramsés II, que libertasse o povo hebreu que estava há 400 anos escravizado no Egito.

Ciente de sua missão, parte então para o Egito e pede ao Faraó que liberte aqueles homens, mulheres, idosos e crianças, para que sigam a sua jornada até a Terra Prometida, hoje o Estado de Israel, a terra de Canaã, de onde jorrava leite e mel. A ideia da Terra Prometida vem do antigo testamento e segundo a Bíblia hebraica, esse local seria a terra dada por Deus aos israelistas e prometida a Abraão, que deixa a Mesopotâmia (atual Iraque) e estabelece-se em Canaã, local onde mais tarde os seus descendentes formariam uma grande nação.

O Faraó Resiste

Diante da solicitação feita por Moisés, o faraó mostrou grande resistência pois a princípio o seu orgulho se sobrepôs ao pensar que se concordasse, perderia prestígio e veria o seu poder enfraquecer. Além disso, estaria dispensando uma importante força de mão de obra.

Em uma das reuniões de Moisés com o Faraó, a fim de impressionar a este e conseguir o seu intento, teria transformado o seu cajado em serpente, à vista de todos. Se de fato isso ocorreu, ele, na qualidade de médium, promoveu um fenômeno de efeito físico manipulando mentalmente os fluídos transmutando a matéria pela ação do seu pensamento.

As Dez Pragas do Egito

Na tradição judaico-cristã, Deus, chamado de Jeová, como forma de convencer o faraó a libertar os hebreus, foi autor das chamadas 10 pragas do Egito. Nessa representação, teríamos Deus como um ser vingativo, capaz de levar morte e destruição, apenas e tão somente para ajudar Moisés em sua missão.

A ciência tem hoje condições de analisar o evento e comprovar que o mesmo ocorreu por causas naturais, como afirma o renomado físico britânico Sir Colin John Humphreys, em seu livro The Miracles of Exodus, The Extraordinary  Natural Cases of the Biblical Stories (Os Milagres do Êxodo, as Extraordinárias Causas Naturais dos Milagres Bíblicos). De acordo com ele, a primeira praga, quando as águas do Nilo tornaram-se vermelhas, não era sangue que corria, e sim, o vermelho das águas deveu-se a uma proliferação de algas daquela cor, que ao produzirem toxinas, mataram os peixes e afugentaram para a terra, sapos e rãs. Desse primeiro fenômeno vieram os subsequentes, que de fato atormentaram o Egito. Mas não foi o único, um papiro do escriba egípcio Ipuwer, de 1850 A.C., narra as inúmeras catástrofes naturais ocorridas no antigo Egito, deixando claro que as dez pragas não foram um fenômeno isolado, mas sim algo que era comum àquela época. Este papiro está no Museu Arqueológico de Leiden, na Holanda.

O Faraó Cede

Mernephtah acreditando que o Deus de Moisés enviara toda aquela sequência de desventuras a ele e ao povo egípcio para forçá-lo a aceitar o pedido do hebreu, abatido, finalmente cede. A primeira parte da missão do “retirado das águas” estava se iniciando.

A Travessia do Mar Vermelho

Saindo do Egito, havia a necessidade de cruzar o Mar Vermelho e assim alcançar o deserto a caminho de Canaã. O faraó, arrependido por ter decidido libertar os hebreus, sai com o seu exército ao encalço dos mesmos, entretanto, já com vantagem por ter saído bem antes, Moisés à beira do mar, teria, segundo a narrativa histórica do livro Êxodo, estendido o seu cajado e o mar teria sido dividido por Deus, permitindo assim que toda aquela massa humana cruzasse o mesmo e atingisse a outra margem. Quando o exército egípcio iniciou a perseguição, as águas fecharam e todos os seus soldados morreram, restando apenas o faraó e seu desespero na margem.

A hipótese mais plausível para a travessia apoia-se no fato de ser Moisés conhecedor do fenômeno das marés, assim calculou a hora mais indicada para passar com os seus liderados justamente no momento em que a maré estava baixa. Os egípcios por outro lado, nada entendiam sobre as marés, por isso que se lançaram inadvertidamente em perseguição aos hebreus, tendo então sido vitimados pelo mar quando as águas voltaram a subir.

No Deserto

Milhares de homens, mulheres, idosos e crianças seguem por um longo périplo em busca da terra prometida. Quarenta anos seriam necessários para que lograssem êxito até atingir os seus objetivos. Divaldo Franco certa vez explicou “ser possível fazer essa travessia em 40 meses, porém, Moisés tinha sob o seu comando um povo que tinha sido escravizado, era uma geração cheia de vícios. Certa feita, voltando de suas habituais meditações, ele viu sua gente aclamando o bezerro de ouro, em homenagem ao Deus Moloch, cujos admiradores sacrificavam crianças e em seus rituais entregavam-se à luxúria. Ao ver isso, Moisés ficou furioso, e ele então resolveu que a estada no deserto deveria estender-se até que essa geração fosse substituída por outra, mais depurada, idealista”.

Alimentando-se no Deserto

Para alimentar-se, utilizavam da carne, leite e queijo fornecidos pelo enorme rebanho que possuíam. Além disso, nas regiões percorridas pelos hebreus, havia muitos oásis com tamareiras e outras frutas, das quais se serviam, inclusive do maná, este um fruto produzido por uma espécie de tamareira, entretanto pela pequena produção do mesmo, seria impossível que ele por si só pudesse alimentar a tantas pessoas.

Os Dez Mandamentos

Moisés sempre se retirava e se recolhia na solidão, para que pudesse meditar. Nesses momentos, espíritos amigos o inspiravam e fortaleciam passando a ele palavras de encorajamento para prosseguir sempre com firmeza e determinação na sua difícil missão. Em um desses momentos, vai ao monte Sinai e lá recebe através de espíritos elevados a lei de Deus, os Dez Mandamentos. (Ver em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 1, Não Vim Destruir a Lei, item 2).

A Lei de Moisés

Moisés precisava ter pulso firme para conduzir os hebreus, um povo naturalmente turbulento, indisciplinado, preconceituoso, características herdadas durante os longos anos de escravidão no Egito.

Assim, cria a chamada Lei Mosaica, composta por cinco livros chamados de Torá, ou seja, Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e o Deuteronômio. Nessas obras encontram-se as prescrições e ritos que orientam a vida moral, social e religiosa do povo hebreu.

Morte de Moisés

Já bem idoso e sentindo que o fim de sua romagem na Terra se aproximava, Moisés escolhe Josué como o seu sucessor, homem dotado de grande coragem, liderança e humildade. A ele coube a tarefa de terminar a enorme epopeia do povo hebreu.

Moisés sobe ao monte Nebo, atual Jordânia, e através de sua vidência pode contemplar a Terra Prometida e, assim, desencarna – não se sabe ao certo com qual idade. Por mais paradoxal que possa parecer, depois de um trabalho tão grande e edificante que exigiu dele determinação, firmeza é fé, Moisés não consegue entrar na Terra Prometida, e ao deixar o veículo carnal, é assistido pelos irmãos do alto que vem buscá-lo, aconchegam-no e o conduzem às mais altas paragens da casa do Pai.

Por Gilson Tadeu Pereira

Bibliografia:

  • O Sublime Peregrino de Hercílio Maes pelo espírito Ramatís
  • O Faraó Mernephtah de Vera Kryzhanovskaia pelo espírito John Wilmot Rochester
  • O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo I, item 2

Um comentário em “Moisés, a Primeira Revelação”

Deixe um comentário