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Jesus, a Segunda Revelação

Em nossa matéria anterior, abordamos a vida e obra de Moisés, a Primeira Revelação. Allan Kardec, anunciou a existência das três revelações, sendo a primeira o libertador dos hebreus, depois Jesus e finalmente o Espiritismo.

O codificador no livro A Gênese explica o significado da palavra “revelação”, como vinda do latim revelare, cuja raiz velum significa sair do véu, e no sentido figurado, descobrir, dar a conhecer uma coisa secreta ou desconhecida. Na mesma obra, finaliza, informando que “no tocante à fé religiosa, a revelação se diz mais particularmente das coisas espirituais que o homem não pode descobrir através da inteligência, nem com o auxílio dos sentidos. Neste caso, a revelação é sempre feita por homens predispostos, chamados profetas ou messias, ou seja, enviados ou missionários, com a tarefa de transmiti-la aos homens”.

Jesus foi o mais importante de todos os missionários que já encarnaram na Terra, e é o mais evoluído de todos os seres que por aqui aportaram.

Allan Kardec na pergunta 625 de O Livro dos Espíritos, inquire a entidade: “Qual o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para lhe servir de guia e modelo?”, e a resposta foi direta: “Jesus!, Jesus é o tipo de perfeição moral que a humanidade pode aspirar na Terra. Ele é o modelo a ser seguido”.

Espírito puro, sua autoridade provinha de usa excepcional evolução e também da natureza divina de sua missão. Não precisaria mais encarnar pois já havia atingido toda a perfeição possível, uma vez que a perfeição total só Deus a tem. Para ele, manter-se no corpo físico era extremamente difícil. Dado à sua evolução, o espírito queria desprender-se, o que exigia notável tarefa dos Irmãos do Alto que sempre o acompanhavam para que ficasse ligado ao corpo.

Jesus não deixou nada escrito, porém, sua história é contada nos quatro evangelhos, de autoria de Mateus, Marcos, Lucas e João, que compõem os primeiros livros do Novo Testamento.

A Vinda de Jesus era Prevista

Sua vinda havia sido anunciada por algumas importantes personagens do Antigo Testamento. João Batista se referia ao evento quando dizia “aquele que vem depois de mim, do qual não sou digno de desatar o nó de suas sandálias”.

Isaias afirmou que “do tronco de Jessé [pai de Davi], sairá um rebento, e das suas raízes um renovo [messias]”. E conclui: “uma jovem pura dará à luz o Filho de Deus”.

Isaias usou a palavra “messias”, vernáculo que era atribuído aos sacerdotes e reis, porque tinham sido ungidos, ou seja, aqueles que foram untados com óleos sagrados e investidos de autoridade por meio de unção. A palavra também significa um salvador, ou um libertador de pessoas. Por isso Jesus passou a ser considerado como o Messias.

Paulo de Tarso em suas cartas, e em quase todas as obras de Kardec, a palavra Cristo foi usada para fazer-se menção à Jesus de Nazaré. Importante salientar que essa palavra em sua etimologia vem do grego Khristós, que significa ungido, tal qual a palavra messias. Jesus, certa feita estava às cercanias de Cesareia de Filipe, interrogando os seus discípulos perguntando a eles quem Ele era, então Simão Pedro tomando a palavra respondeu-lhe: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo”. Isaias completa: “a única preocupação será estabelecer a justiça entre o seu povo, este não aspirará à grandeza política, mas levará uma vida pastoral”.

Miquéias afirmou que Jesus nasceria em Belém, Daniel teve uma visão onde viu o Messias como o Filho do Homem, que viria a reinar para sempre. A autodesignação “Filho do Homem”, foi feita por Jesus, como encontramos no novo testamento.

Jeremias ensina: “Eis que vem dias, em que se levantará um renovo [Messias] justo, e sendo Rei, reinará, prosperará, e praticará o juízo e justiça na Terra”.

Na Pérsia, três milênios antes da manjedoura, Zoroastro ensinava aos seus discípulos: “Oh! vós, meu filhos, que já estais avisados de seu nascimento antes de qualquer outro povo; assim que virdes a estrela, tomai-a por guia e ela vos conduzirá ao lugar onde Ele, o Redentor, nasceu, adorai-o e ofertai-lhe presentes porque Ele é o Verbo, a Palavra que formou os céus”.

No esplendoroso Egito, a Terra de Kemet, na pirâmide de Gizé, estava gravada a profecia de seu nascimento, para o conhecimento dos pósteros.

Na milenar Grécia, a Ele se refere Platão: “Virtuoso até a morte, Ele passará por injusto e perverso, e como tal, será flagelado, atormentado, e por fim posto na cruz”.

Por volta de 500 anos antes de sua vinda, Confúcio profetizara que “em um futuro ao qual ele não sabia precisar, haveria a chegada de um homem, muito aguardado”.

A Preparação para a Vinda de Jesus

Há milhares de anos, reuniram-se algures no espaço infinito, uma plêiade de venerandos e luminares espíritos cujo luminosidade era capaz de ofuscar o brilho das estrelas, a fim de dar início ao lento processo de encarnação de Jesus na Terra. Chegara o momento em que o plano adrede preparado deveria seguir o seu curso, e para tanto deliberações divinas foram tomadas por aquelas entidades encarregadas de tão significativo mister.

Após um tempo enorme, depois de ter a Terra recebido valorosos espíritos em seu seio com a nobre tarefa de preparar a vinda d`Ele, onde pontificaram personagens como Sócrates, Platão, Krishna, Akhenaton, Fo-Hi, Lao-Tse, Confúcio e Moisés, chegara a vez do próprio Messias, fazer-se presente em nosso orbe.

O processo de encarnação de Jesus teria levado de 1.000 a 4.000 anos. Seja como for, para que tão excelsa entidade pudesse mergulhar novamente na carne, a preparação para o evento não poderia ter sido feita rapidamente.

Quando ao aproximar-se da atmosfera terrestre, trazido pelos seus luminosos assistentes do Alto, iniciou-se o processo de redução vibratória, alguns iniciados maiores, a quem houvera sido revelado mediunicamente a próxima encarnação do Messias, sentiram essa aproximação, e se prepararam para receber o ilustre encarnante quando o momento chegasse. A tradição cristã dá conta que esses iniciados eram os chamados “Reis Magos”, entretanto, Melchior, Baltazar e Gaspar não eram reis, mas sim, religiosos provenientes do oriente, de localidades onde a astrologia e a magia eram praticadas livremente.

Maria, a Mãe de Jesus

As entidades debruçadas sobre as páginas do grande plano encarnatório haviam deliberado que Maria – do hebraico Miriam = senhora soberana –, daria à luz a Ele. Virgem hebreia moradora em Jerusalém fora dos muros, com a morte de seus pais Joaquim e Ana, foi internada no Templo de Jerusalém, junto às virgens de Sião.

Espírito dotado de grande humildade, amoroso, de muita candura e capacidade de entendimento, Maria era a mais indicada para abrigar em seu ventre tão sublime entidade.

Havia em Nazaré um carpinteiro de nome José, cuja esposa de nome Débora desencarnara ainda jovem, deixando-o com a difícil incumbência de criar cinco filhos. Então dirige-se ao Templo pedindo que lhe fosse designada uma esposa. A escolhida foi Maria. A união entre o casal foi fruto de um planejamento feito pelo Alto, identificando nela todas as condições físicas, pessoais e espirituais para a tarefa de receber Jesus como seu filho amado.

Quanto a José, era um homem simples, de costumes regrados e avesso às paixões inferiores, era um ser de extrema bondade e capacidade de compreensão. Com sua firmeza, reuniu as condições necessárias para acompanhar Jesus em seu crescimento.

A Anunciação

Quando ainda vivia no Templo, certa noite ao adormecer, Maria teve uma visão em função de suas habilidades mediúnicas, durante a qual uma angelical entidade masculina, a quem a tradição cristã chamou de Gabriel, saudou-a e avisou-lhe que ela daria à luz ao Messias esperado e colocaria nele o nome de Jesus.

A princípio Maria estranhou a mensagem e ao mesmo tempo sentiu certo temor pois ainda não havia conhecido José, seu futuro marido.

Depois de ser eleita para desposar o humilde carpinteiro, entendeu então a visão e as explicações correlatas.

Tempos depois do casamento, Maria anuncia a José que estava grávida, confirmando-se assim o anúncio feito por Gabriel.

Ao receber em seu ventre tão sublime Espírito, Maria sentia uma grande plenitude e paz, pois recebia os eflúvios dulcificantes vindos do mesmo, sendo sempre acompanhada pelas elevadas entidades do Alto, que a apoiavam e diziam a ela sobre a sua tarefa, pontilhada de alegrias, mas também sobre os sofrimentos pelos quais deveria passar.

A Missão de Jesus

Jesus veio ao mundo em um momento em que a humanidade estava preparada para receber ensinamentos de ordem superior. Ensinamentos esses que após a sua morte foram propagados pelos seus apóstolos, sendo esse momento marcado pelo início a perseguição aos mesmos, e depois àqueles que se tornaram cristãos, principalmente durante a época do apogeu de Roma.

Assim, sua encarnação teve como objetivo acelerar o ritmo da evolução espiritual do homem terreno, através de suas sublimes lições: a prática da caridade, tolerância, paciência, abnegação, desapego aos bens materiais e amor ao próximo. Pregava junto aos pobres, aos infortunados, aos doentes, aos pecadores, aos escravos, aos perseguidos, nos tugúrios, mostrando que a verdade dispensava a suntuosidade dos templos e dos fóruns.

Ensinou que a verdadeira vida não está na Terra, mas no Reino dos Céus, que é preciso que todos pratiquemos a reforma íntima se tivermos aspirações para entrar nesse Reino, abandonando os vícios físicos e os morais, tais como a cobiça, a avareza, a ganância, o orgulho e a vaidade, e todos os demais que tanto atrasam a evolução do ser.

Ele mesmo dizia que não tinha vindo para destruir a lei de Deus, os Dez Mandamentos, mas sim, para cumpri-la, dar a ela o verdadeiro sentido.

Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, ensina: “Jesus, foi o iniciador da mais pura, da mais sublime moral, da moral evangélico-cristã, que há de renovar o mundo, aproximar os homens e torná-los irmãos; que há de fazer brotar de todos os corações a caridade e o amor do próximo e estabelecer entre os humanos uma solidariedade comum; de uma perfeita moral, enfim, que há de transformar a Terra, tornando-a morada de Espíritos superiores aos que hoje a habitam”.

Emmanuel, no livro 50 Anos Depois, assim ao Mestre se refere: “Suas palavras proferidas para a eternidade, abrangem e abrangerão todas as situações e todos os séculos vindouros, de modo a demonstrar que a fraternidade é o seu alvo e que todos nós, homens e grupos, coletividades e povos, somos membros de uma comunidade universal, fraternidade essa que um dia nos integrará a todos como irmãos bem-amados e para sempre. Seus ensinamentos referiam-se àqueles que cumprindo a vontade soberana e justa do Pai que está nos céus, marcham na vanguarda dos caminhos humanos, e demanda de seu reino de amor, cheia de belezas imperecíveis”.

Jesus de Nazaré, a quem podemos chamar de o Messias, o Cristo, o Mestre, o Espírito da Verdade, o Rabi da Galileia (Rabi = grande, o distinto em conhecimento); desde tempos imemoriais sempre esteve ligado ao nosso orbe, ao qual inclusive participou de todas as etapas de sua criação. É o assim chamado Governador do Planeta Terra, e para maiores esclarecimentos sugerimos a leitura neste site da matéria “Advento do Espírito de Verdade.

Jesus e Seus “Milagres”

A Ele foi atribuído a realização de 35 “milagres”. Edgard Armong no livro O Redentor, ensina que “desde criança, o Divino Enviado, muitas vezes só com a sua presença, operava curas e fenômenos incomuns, e à medida que seus poderes psíquicos foram se exteriorizando com o crescimento, maiores e mais numerosas eram as circunstâncias em que os fatos sucediam, enchendo de assombro e respeito a todos quantos os presenciavam”.

À luz da Doutrina esses fatos ditos como “milagrosos” tem uma explicação lógica, devidamente esmiuçados neste site na matéria Os Milagres de Jesus Segundo o Espiritismo”.

Jesus e Maria Madalena

É compreensível que a figura de Maria Madalena, nascida em Magdala, antiga cidade da Galileia, esteja tão ligada à vida do Cristo. Muitas estórias foram contadas a respeito dessa personagem. Reconhecidamente uma cortesã, Madalena era uma linda mulher no esplendor de seus vinte e quatro anos de idade, e possuidora de enorme riqueza. Vivia uma vida de luxúria, principalmente entre nobres romanos.

Há quem defenda a ideia de que ela e Jesus teriam se casado e teriam tido dois filhos. Não existe qualquer comprovação de que isso tenha ocorrido. Nem mesmo a Bíblia traz qualquer comentário sobre a questão. Allan Kardec ensina que “a autoridade do Espiritismo advém da lógica e da razão na observação dos fatos”.  Assim, lembremos que Jesus, Espírito puro como já aludimos, não estava mais sujeito às necessidades da matéria, e por extensão não mais se abalava com a beleza das formas. Para ele não importava o “exterior”, a aparência das pessoas, mas sim o seu “interior”, com as suas virtudes e falhas morais, e o que de fato as pessoas eram espiritualmente falando.

O Mestre sabia que todos somos espíritos cujo objetivo é o de trilhar as sendas da evolução, e ensinava que somos todos iguais perante o Pai. Assim sendo, a mais linda das mulheres, ou o infeliz desfigurado pela lepra, não o faziam diferir entre um e outro, pois o seu amor incondicional pelas criaturas se expressava ao se apiedar de todos, jamais negando um auxílio a um irmão necessitado.

Tendo atingido a maior perfeição possível, não tinha mais a necessidade de casar-se, até porque no seu longo caminho de evolução, havia há muito deixado para trás a necessidade de assim unir-se. Jesus amava a todos fraternalmente.

O espírito Ramatís em sua obra O Sublime Peregrino, afirma que Maria Madalena certa feita abriu caminho entre a multidão que escutava a palavra do Mestre e, trêmula, atirou-se aos seus pés, clamando a Ele que a salvasse, uma vez que já não suportava mais sua vida de desregramentos e em prantos enxugou com os cabelos as lágrimas que seus olhos sobre os pés de Jesus haviam derramado.

Edgard Armond no livro O Redentor corrobora com Ramatís acrescentando que Jesus, dirigindo-se a ela, pede que se levantasse, porque os seus pecados haviam sido perdoados.

Muito provavelmente, Maria Madalena tenha se apaixonado por Ele, mas percebeu que a elevação espiritual daquele homem não permitiria qualquer outro tipo de relação a não ser a do amor fraterno, espiritual que d`Ele exalava, não só com ela, mas no tocante a todas as criaturas. Ela então sublimou o sentimento e passou a segui-lo vindo a se desfazer de todos os seus bens. Após o suplício do Gólgota, passou a realizar trabalhos junto aos hansenianos, posteriormente contraindo a doença e desencarnando em Éfeso.

Os ensinamentos de Jesus, a quem Edgard Armond chama de a mais alta manifestação do Plano Espiritual Superior na Terra, estão contidos nos quatro livros do Novo Testamento e também no O Evangelho Segundo o Espiritismo de Allan Kardec, lançado em 1864, trazendo as devidas explicações com relação às máximas morais do Cristo. Este é um verdadeiro código de moral universal, com aplicação geral, não sendo uma obra restrita somente aos espíritas.

O Espírito de Verdade, ou seja, o próprio Jesus, no prólogo da citada obra, deixou-nos essas tão profundas e sublimes palavras: “eu vos digo em verdade, que são chegados os tempos em que todas as coisas devem ser restabelecidas no seu verdadeiro sentido, para dissipar as trevas, confundir os orgulhosos e glorificar os justos.

“As grandes vozes do céu ressoam como o toque da trombeta, e os coros dos anjos se reúnem. Homens, nós vos convidamos para o divino conserto: que vossas mãos tomem a lira, que vossas vozes se unam, e num hino sagrado, se estendam e vibrem, de um extremo do Universo a outro.

“Homens, irmãos amados, estamos juntos de vós. Amai-vos também uns aos outros, e dizei do fundo de vosso coração, fazendo a vontade do Pai que está no céu: Senhor, Senhor! E podereis entrar no Reino dos Céus.”

Por Gilson Tadeu Pereira

Bibliografia:

  • Os Exilados de Capela – de Edgard Armond
  • O Redentor – de Edgard Armond
  • O Evangelho Segundo o Espiritismo – de Allan Kardec
  • O Sublime Peregrino – pelo espírito Ramatís, psicografia de Hercílio Maes
  • Obras Póstumas – pela Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas
  • 50 anos Depois – pelo espírito Emmanuel, psicografia de Chico Xavier

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