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Espiritismo, a Terceira Revelação

Allan Kardec, o codificador, havia informado sobre a existência das três revelações, pela ordem a tríade formada por Moisés, Jesus Cristo e o Espiritismo. Em A Gênese, o quinto livro da Codificação (1868), ele explica o significado da palavra “revelação” como vinda do latim revelare, e no sentido figurado, “dar a conhecer uma coisa secreta ou desconhecida”.

Prossegue o Prof. lionês, “no tocante à fé religiosa, a revelação se diz mais particularmente das coisas espirituais que o homem não pode descobrir através da inteligência, nem com o auxílio dos sentidos”. Nas duas matérias anteriores neste site, contamos a história de Moisés e de Jesus, respectivamente intituladas de “Moisés, a Primeira Revelação” e “Jesus, a Segunda Revelação”recomendamos a leitura das mesmas.

O codificador

Hippolyte Leon Denisard Rivail, (Lyon, 1804 – Paris, 1869) foi um educador, mestre em química, matemática, astronomia, anatomia comparada, autor e tradutor francês. Era o verdadeiro nome de Allan Kardec, o mesmo adotou o pseudônimo depois de participar de uma das reuniões na casa da Sra. Plainemaison. O professor Rivail conheceu ali a família Boudin, que realizava na casa desta senhora sessões semanais. Em uma delas, em 1857, um espírito amigo identificado como Zéfiro, disse-lhe que eles já eram conhecidos de uma antiga existência, quando ao tempo dos druidas estiveram juntos na Gália. O professor naquela encarnação chamava-se Allan Kardec, e era um sacerdote.

Os druidas eram um povo que há 3.000 anos habitavam a região que hoje é o Reino Unido, norte da Espanha e da França. Tinham muita sabedoria, acreditavam na imortalidade do espírito, na reencarnação, na entidade de Deus e que o homem tem a proteção dos espíritos superiores.

Dos 10 aos 15 anos de idade, esteve em Yverdon, na Suíça, estudando com o célebre pedagogo Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827). Quando Kardec completou 13 anos, Pestalozzi teve que realizar uma viagem, então concede ao futuro codificador a direção da escola, este por sua vez nos 4 anos que lá esteve, desenvolveu as ideias que mais tarde fizeram dele um observador atento e meticuloso, um pensador prudente e profundo.

Revelações sobre a tarefa

Espírito evoluído, pertencente ao grupo de espíritos da falange dos espíritos de Jesus, Kardec assume ao encarnar a árdua tarefa de codificar o difundir o Espiritismo. Foi intensamente ajudado pelos Irmãos do Alto na realização de seu trabalho, e o Espírito da Verdade, era um deles, (leia neste site o artigo: “Advento do Espírito de Verdade”)Enquanto descansava, em desdobramento contatava aqueles elevados espíritos que o ajudavam na missão, dando-lhe orientações de como proceder e encorajando-o a enfrentar os obstáculos.

Divaldo Franco, certa feita referiu-se a Kardec, como “o embaixador dos céus”.

Em reunião em 30/04/1856, na casa do Sr. Roustan, a médium Ruth Japhet, de apenas 16 anos, recebeu uma mensagem de uma entidade dirigida a Kardec, na qual a mesma informou: “não haverá mais religiões, mas apenas uma, mais verdadeira, grande, bela e digna do Criador. Os teus primeiros fundamentos já estão colocados, e tu, Rivail, a tua missão aí está”.

No mesmo ano, no mesmo local, Kardec pede ao espírito Hahnemann que confirmasse a informação para ele passada com relação à sua missão, obtendo como resposta: “sim, verifique tuas tendências e aspirações, não se surpreenda. É preciso que cumpra o que sonhou há tempos, é preciso que trabalhe nisso ativamente para que esteja pronto, porque o dia está mais próximo do que pensa”.

Kardec, homem dotado de grande inteligência, e analítico, era também questionador e parecia duvidar de sua tarefa. Entretanto, ainda em 1856, novamente em comunicação, através da mesma médium, o Espírito de Verdade diz a ele: “confirmo o que foi dito, mas recomendo-te discrição se quiseres te sair bem”.

Uma caminhada difícil

Em uma época em que a França despontava como o berço das ideias renovadoras, nas artes, na ciência, na política e na religião, Paris havia se tornado o local ideal para que Kardec realizasse a sua nobre tarefa, começando pela investigação dos fenômenos mediúnicos da época, as “mesas girantes”, atração nos salões da cidade. Isso porque quase 150 anos antes, Paris tornou-se conhecida como “A cidade Luz“, em função de ter sido ela o berço do Iluminismo (1715-1789), movimento filosófico que entre outras coisas, defendia a liberdade, o progresso, tolerância e fraternidade, e combatia o absolutismo então reinante.

Aquela linha de pensamento trouxe para a milenar e bela cidade, artistas, pensadores e inventores, que com suas magníficas ideias acabaram por pavimentar o caminho de Kardec para a realização de sua nobre missão muito tempo depois.

Entretanto, mesmo com a enorme proteção e amparo do Alto, Kardec não teve vida fácil quando da codificação pois foi vítima de incompreensão, perseguição, calúnia, ao ser, por exemplo, injustamente acusado de estar enriquecendo com o dinheiro que ele arrecadava com o Espiritismo.

Despertou a ira do clero, como se verificou no auto de fé de Barcelona, em 1861, quando 300 livros espíritas foram queimados em praça pública por ordem do Bispo Antonio Palau Termes, tendo este afirmado que os mesmos iriam perverter a moral e a religião de outros países. Apesar disso tudo, Kardec, com enorme determinação, característica por ser um espírito tenaz, triunfou deixando com sua grandiosa obra, um legado que é na verdade o caminho para a redenção de todos os que vivem neste planeta.

O consolador prometido por Jesus

Jesus certa feita referiu-se ao Espiritismo dizendo: “se me amais, guardai meus ensinamentos e eu rogarei ao Pai que lhes envie outro Consolador afim de que fique eternamente convosco. Eu vos tenho dito essas coisas enquanto estiver convosco, mas o defensor que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar do que disse”.

Assim, o Espiritismo, além de “Terceira Revelação” também é o “Consolador Prometido”, porque mostra e explica o que Jesus ensinou, consola e conforta os que sofrem ao mostrar-lhes as causas e a finalidade dos sofrimentos humanos. O Espiritismo vem abrir os ouvidos e olhos de toda a gente pois ensina sem figuras, sem alegorias, e levanta o véu lançado propositadamente sobre certos mistérios, trazendo a consolaçãosuprema aos deserdados da Terra e a todos aqueles que sofrem.

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, encontramos a seguinte definição: “é a nova ciência, que vem revelar aos homens, por meio de provas irrefutáveis, a existência do mundo espiritual e suas relações com o mundo material. Ele nos mostra alguns fatos ocorridos no mundo não mais como sobrenaturais, mas pelo contrário, como uma das forças vivas e incessantemente atuantes na natureza, como fonte de infinidade de fenômenos, até então incompreendidos, e por essa rejeitados para o domínio do fantástico e do maravilhoso”.

As provas irrefutáveis consistem na comunicação dos espíritos que tantas orientações sempre trouxeram e trazem, e que os fatos tido como sobrenaturais, são perfeitamente explicados pela mediunidade e existência dos fluidos que inundam todo o Universo.

Fatos mediúnicos através dos tempos

A própria história é rica em inúmeros fatos que vem a comprovar a existência do mundo espiritual e o intercâmbio entre os dois planos, muito tempo antes da Codificação. Assim, podemos afirmar que o Espiritismo, termo criado por Kardec, é tão antigo como a própria história da humanidade, porém, o marco inicial do mesmo é de 18 de abril de 1857, com a publicação de O Livro dos Espíritos.

Narrando alguns fatos mediúnicos através dos tempos, vamos encontrar a figura e Moisés (1.200 a.C.), que foi um médium vidente, auditivo e provavelmente de efeitos físicos, recebe mediunicamente no Monte Sinai “Os Dez Mandamentos”.

Apolônio de Tiana, (2 a.C-95) tinha mediunidade de cura, premonição e vidência à distância. Sócrates (470-300 a.C.), o genial filósofo, um dos precursores do Espiritismo, era vidente e conversava com um espírito que o acompanhava, a quem chamava de Daemon (espírito).

Paulo de Tarso (5-67), tinha mediunidade de vidência e de cura. Quando já preso em Roma, recebeu a visita de Acácio Domício, homem de grande influência política que vai à sua procura a fim de curar-se de uma cegueira que o acometera, então, o grande Apóstolo de Cristo, impõe as suas mãos sobre a sua cabeça e ordena que ele volte a ver em nome de Jesus, e assim ocorre.

Maomé (570-632), estando na solidão do deserto, sua vidência permite a ele contato com uma entidade que ele definiu como um anjo, e esta dita a ele o Corão.

Isabel de Aragão, Rainha de Portugal (1270-1336), médium de efeitos físicos, certa feita em uma manhã de inverno em Leiria, onde morava, transmutou pães em rosas, em um feito que para muitos foi considerado como um “milagre”. (Para conhecer a fascinante história de Isabel, recomendamos a leitura do artigo neste site “Isabel de Aragão, uma Rainha a serviço do Bem”).

Joanna D´Arc (1412-1431), vidente, guia o povo francês na guerra contra a Inglaterra. Os espíritos a aconselhavam e a protegiam.

Cristóvão Colombo (1451-1506), médium audiente, ouvia o seu espírito protetor dizendo a ele para continuar navegando porque ele tinha uma tarefa a realizar. A tripulação estava inquieta, quase se amotinando em função de estar há muitos dias no mar sem avistar terra. Inspirado pelo espírito, o navegador acalmou os homens e dias depois desponta no horizonte o perfil da América.

Emmanuel Swedenborg (Estocolmo, 1688 – Londres, 1772), cientista e filósofo, era médium vidente e certa feita estando em Gotemburgo, narrou com precisão um incêndio que ocorria naquele momento em Estocolmo. Em uma época na qual a comunicação era difícil, a notícia do sinistro chegou somente três dias depois.

O caso das irmãs Fox e as experiências de William Crookes

Um fato ocorrido em Hydesville nos Estados Unidos, no estado de Nova York, pode ser considerado como os primórdios do Espiritismo moderno. John Fox, junto com a esposa e suas três filhas, Kate de 11 anos, Leah de 16 anos e Margareth de 14, mudam-se para uma casa de madeira tida como mal-assombrada pelos vizinhos, em função dos estranhos fatos que lá ocorriam.

O senhor Fox, homem equilibrado, não deu importância para o falatório ao redor. Entretanto em 1848, estranhas ocorrências vieram a comprovar o que se falava sobre a casa. Ruídos, pancadas, eram ouvidos à noite vindos do nada, e as camas das meninas balançavam como se alguém estivesse tentando levantá-las. Apavoradas, as meninas fugiam para os quartos dos pais para lá dormirem.

Certo dia, Kate bateu na parede, como em resposta às pancadas, então, estabeleceu-se um “diálogo“, determinando-se que cada número de pancadas representaria uma letra. Assim, conversou com um espírito que ali estava que se fez entender que quando encarnado chamava-se Charles Rosna, um cacheiro viajante que anos antes fora assassinado por um antigo morador do local e seu corpo jamais fora achado.

Nessas comunicações, o espírito indicou uma parede na adega, onde os restos de seu antigo corpo estariam. Providenciada a escavação, uma antiga parede ao ser derrubada revelou os restos mortais de um homem. Comprovou-se a veracidade da história. Esse evento tornou-se um clássico na prova da continuidade da vida após a morte e é claro, a existência do mundo dos espíritos.

Em seus textos, Kardec deixou claro que os ensinamentos da doutrina seriam explicados pela ciência, e isso não demorou muito a acontecer, como no caso das sessões de materializações do espírito Katie King, feitas a partir de 1869 na casa do renomado químico e físico inglês Willian Crookes (1832-1919), com a ajuda da médium de efeitos físicos Florence Cook. Fotografado, medido, examinado, o espírito tornou-se várias vezes tangível, provando assim cientificamente a realidade da imortalidade da alma e não só da existência dos espíritos como também a sua interação com o mundo material. Rendendo-se à evidência, o brilhante cientista após testemunhar várias aparições do espírito Katie King declarou convencido: “não creio que isso seja possível, digo que isto é real”.

O propósito do espiritismo e seus princípios

Como religião, o Espiritismo tem como propósito vivenciar os ensinamentos de Jesus, sempre de uma forma simples, sem luto, sem pompa, sem grandeza. Para tanto, não tem rituais, dispensa o uso de bebidas e fumo durante os trabalhos, não tem sacerdotes, velas, nem adota cânticos e roupas especiais. É livre e progressista pois respeita o livre arbítrio do ser. Como filosofia, analisa e explica a Criação Divina, a destinação do homem e reflete sobre as causas da felicidade ou infelicidade humanas. Como ciência, observa, identifica e explica a existência da alma, sua imortalidade e o intercâmbio entre os dois planos.

Os princípios básicos da doutrina, são:

  • a existência de Deus, o Criador e causa primeira de tudo o que existe
  • a imortalidade da alma
  • a reencarnação
  • a comunicação com os mortos, e os seus consequentes ensinamentos

O Espiritismo possui cinco obras básicas:

  • O Livro dos Espíritos, a primeira de 1857, no qual encontramos os princípios da doutrina
  • O Livro dos Médiuns, de 1861, é um guia dos médiuns e um tratado sobre a mediunidade
  • O Evangelho Segundo o Espiritismo, de 1864, na obra estão contidos todos os ensinamentos morais do Cristo com as devidas explicações
  • O Céu e o Inferno, de 1865, trata da justiça divina
  • A Gênese, de 1868, os milagres e as predições de acordo com o Espiritismo.

Em comunicação de 15 de abril de 1860, no livro Obras Póstumas, a entidade ensina: “o Espiritismo desempenhará um papel imenso sobre a Terra, será ele que reformará a legislação tão contraria às leis divinas. Será ele que reconduzirá a religião do Cristo, extinguirá para sempre o ateísmo e o materialismo, aos quais certos homens foram levados pelos abusos daqueles que se diziam ministros de Deus, pregam a caridade com uma espada na mão, sacrificam à sua ambição e ao espírito de dominação, os direitos mais sagrados da humanidade”.

Segundo Leon Denis (França, 1846-1927), pensador espírita, médium e um dos principais continuadores do Espiritismo após o desencarne de Kardec, “o Espiritismo não é a religião do futuro, mas o futuro das religiões, porque o Espiritismo como o Cristianismo Redivivo, vem cumprir a promessa de Jesus sobre o Consolador: a chave para a compreensão de vários pontos os quais não tínhamos condições de compreender”.

Allan Kardec ao referir-se ao Espiritismo asseverou que “pelo Espiritismo, a humanidade deve entrar em nova fase, a do progresso moral, que é a sua consequência inevitável. Caminhando a par com o progresso, ele jamais será ultrapassado, porque se novas descobertas lhe demonstrassem estar errado acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto, se uma nova verdade se revelar, ele a aceitará”.

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, o codificador ensina: “o Espiritismo é a Terceira Revelação da Lei de Deus. Mas não está personificado em ninguém, porque ele é o produto do ensinamento dado, não por um homem, mas pelos espíritos que são as vozes do céu, em todas as partes da Terra e por inumerável multidão de intermediários. Compreende o conjunto dos seres do mundo espiritual, cada qual trazendo aos homens o tributo de suas luzes, para fazê-los conhecer esse mundo e a sorte que nele os espera. Ele nada ensina contrário ao ensinamento do Cristo, mas o desenvolve, completa e explica, em termos claros para todos, o que foi dito como forma alegórica. Ele vem cumprir na sua predita, o que o Cristo anunciou, e preparar o cumprimento das coisas futuras. Ele é portanto, obra do Cristo, que o preside, assim como preside ao que igualmente anunciou: a regeneração que se opera e que prepara o Reino de Deus sobre a Terra”.

Por Gilson Tadeu Pereira

Bibliografia:

  • O Evangelho Segundo o Espiritismo – capítulo I
  • Isabel de Aragão, a Rainha Médium, pelo Espírito Monsenhor Eusébio Cintra, médium Valter Turini.
  • Obras Póstumas, compilação de escritos de Kardec, após a sua morte, publicado pela Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas.
  • Paulo e Estevão, pelo espírito Emmanuel com psicografia de Chico Xavier. 

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